Sofri um nocaute. E dos bem dados.
Fiquei acordado até as 2 da
manhã na segunda acompanhando a apuração das eleições no Vasco da Gama,
ávido por ver o maior ídolo do clube, apoiado por um grupo de
empresários de sucesso nos seus respectivos ramos, sendo aclamado como
novo presidente da agremiação. Perda de tempo. Acabei vendo uma
lamentável cena, na qual puxa-sacos e escudeiros do Dr. Eurico
hostilizavam Roberto Dinamite enquanto comemoravam a vitória da pouca
vergonha.
O vascaíno que votou no Eurico é uma cópia fiel do
brasileiro que vota no Maluf, no Pallocci, no Severino Cavalcanti, nos
mensaleiros... O brasileiro do "rouba mas faz", que quer dar uma de
falso pragmático, esquece seus princípios (aliás, nunca os teve) em
troca de benefícios pessoais. No caso do Vasco, não importa se o Eurico é
um salafrário, 171, mafioso, bandido, autoritário, truculento,
anti-democrático. Importa que a piscina foi reformada, as churrasqueiras
do clube estão limpinhas, enfim, importa que EU SÓCIO tenho meus
benefícios. O resto que se foda. Os fins justificam os meios.
Como
pode um homem sozinho destruir uma história de 108 anos de democracia,
de luta contra o racismo, contra o preconceito, de surgimento e
fortalecimento de um clube verdadeiramente popular, nascido em um bolsão
de miséria, nos subúrbios, longe dos holofotes da imprensa e da
badalação da zona sul carioca?
Se estivesse vivo, o que estaria
pensando Cândido José de Araújo, primeiro presidente negro da história
dos clubes do Rio, eleito na longinqua e racista 1904, apenas 16 anos
após a abolição da escavidão no Brasil?
Se estivesse vivo, o que
estaria pensando José Augusto Prestes, presidente do Vasco em 1923,
quando o clube, após ser campeão carioca pela 1ª vez utilizando 12
negros e mulatos no time, preferiu abandonar a liga carioca de futebol a
ter que excluir estes mesmos 12 atletas de seus quadros, conforme
imposto pelos "clubes dos bons moços de familia" da zona sul?
O
que pensariam todos os vascaínos que ajudaram a construir, seja com suor
e sangue, seja com recursos, o estádio de São Januário, que de 27 até
40 foi o maior estádio do Brasil, um estádio construído sem UM TOSTÃO DO
GOVERNO, que, muito pelo contrário, tentou prejudicar o projeto ao
proibir a importação de cimento belga? E esse mesmo governo, com a
cara-de-pau que só os políticos tiveram, têm e sempre terão, apareceu no
dia da inauguração do estádio, representado pela figura do Sr.
Presidente Washington Luis, como se nada tivesse acontecido.
Onde foram parar esses exemplos de caráter, de princípios, de moral?
Pois
é. Um clube com uma história magnífica vem sendo destruído, impunemente
por esse senhor nefasto, que transformou o "simpático clube de são
cristovão", querido e admirado por diversas figuras nacionais, entre
elas Pelé, no clube mais odiado do Brasil. E com razão. Se eu não fosse
vascaíno, odiaria o Vasco só por permitir que uma figura como essa ainda
tivesse espaço na midia e no futebol nacional.
Desculpem pelo
desabafo que foge um pouco da característica e da proposta do blog. Mas
os Euricos, Márcios Bragas, Perrelas e Dualibs continuam a infestar o
futebol nacional porque nós brasileiros não temos vergonha na cara.
Brilhantemente Charles de Gaule, ex-chefe de estado francês, proferiu a
famosa frase, ao pousar em solo brasileiro: "O Brasil não é um país
sério."
Um vascaíno, carioca e brasileiro envergonhado.